Quadril

08 abr Quadril

Vivemos um tempo em que cada vez as pessoas se movimentam menos, seja pelo fato de trabalharem sentadas, como já foi muito falado, seja porque o sedentarismo é uma grande tendência para a maior parte da população mundial, mas é preciso entender mais a fundo esta questão!

A cultura do conforto não se resume a trabalhar sentado, diversas atividades sociais tendem a nos manter sentados por horas, como um almoço com amigos ou assistir a filmes e séries na televisão e no cinema. Além disso, a utilização de tecnologias nos permite menores deslocamentos e muitas vezes até nos faz evitá-los. Um exemplo disso é o fato de que até pouco tempo atrás as pessoas se deslocavam mais aos bancos para pagar contas e fazerem depósitos, atividades que hoje na maior parte são feitas por aplicativos do próprio celular.

Estudos comparativos entre indivíduos de tribos de nativos, que vivem ainda como nossos ancestrais, e indivíduos que vivem em centros urbanos, mostram que a quantidade e a variedade de movimentos, que estes nativos realizam é infinitamente maior, mesmo no período de descanso. Isso nos leva ao fato de que nosso quadril passa a maior parte do tempo em 2 posições, na posição neutra, aquela posição de quando estamos em pé e em 90º, posição do sentar.

Neste ponto é importante ressaltar que nossas articulações precisam de movimento para manter uma boa lubrificação e nutrição de suas estruturas, quando movimentamos pouco e em graus limitados geramos rigidez articular e com o tempo nosso corpo tem que aprender a lidar com estas limitações de movimentos gerados por esta rigidez, acarretando em alterações posturais e um processo que chamam na antropologia de evolução forçada, ou seja, se este processo de adaptação ao tempo prolongado em postura sentado acontecesse em milhões de anos nosso corpo seria capaz de se moldar a nova realidade e provavelmente teríamos mais comumente pessoas “andando numa posição mais sentada” sem necessariamente desenvolverem algum desgaste da articulação dos quadris ou da coluna, mas como este processo acontece dentro de uma vida de um indivíduo, não há tempo de uma adaptação biológica, gerando estresse nos tecidos que resulta no desgaste das articulações, o que conhecemos como artrose, gerando os famosos “bicos de papagaio”.

As mudanças de hábitos de movimentação até a Revolução agrícola levavam milhões de anos, de 12,5 mil anos para cá as mudanças foram rápidas comparativamente. O que leva a estas mudanças dos hábitos de movimentação é o comportamento social, a medida que deixamos de caçar e buscar alimento na natureza (forragear), nossa postura tende a mudar, pois já na agricultura haviam certas atividades que começavam a exigir repetições de movimentos mais constantes, mas foi na Revolução industrial que veio a grande mudança, pois uma grande parte da população começou a ficar mais horas por dia sentados trabalhando e repetindo movimentos por todo o dia.

Na Revolução tecnológica a mudança foi ainda mais rápida e maior. Nos dias atuais, o esforço para que a população adquira hábitos, que coloquem movimentação na rotina é enorme e mesmo assim grande parte da população mundial sofre com sobrepeso e outras doenças ligadas ao sedentarismo, como a artrose. Dizer que perder peso é a solução para pessoas que sofrem de artrose de quadril é ter uma visão reduzida do problema. O desgaste de uma articulação é gerados por diversos fatores e a sobrecarga articular é só um deles.

Desalinhamentos articulares, adaptações posturais ineficientes para corpos extremamente rígidos, a prática de esportes ignorando quadros dolorosos por anos, fatores emocionais, dentre outros motivos, são fatores que geram ou intensificam dores e inflamações articulares, todos estes fatores podem ser controlados, mas em alguns casos é necessária a atuação de uma equipe multidisciplinar com fisioterapeutas, médicos, nutricionistas, acupunturistas, além de outros profissionais, que podem ajudar muito a controlar e reequilibrar o corpo lidando com uma variedade enorme de fatores causais.

O fato é que em lesões de quadril como tendinites, artroses, osteoporose e bursites, o tratamento deve ser prioritariamente conservador, ou seja, é necessário um investimento de tempo e paciência para que haja mudança em uma série de hábitos que estão gerando o quadro de dor. O tratamento da equipe multidisciplinar é apenas uma parte do processo, pois o paciente precisa integrar mudanças gradativas na sua rotina, que geram um ganho ainda maior aos resultados das terapias, assim vencendo os sintomas e na maior parte dos casos não precisando de cirurgias de limpeza da articulação por artroscopia ou mesmo colocação de próteses.

A verdade é que muitos pacientes acabam se arrependendo de colocarem próteses, quando decidem precocemente sem tentar tratar com fisioterapia e com todos os recursos que uma equipe multidisciplinar pode oferecer.

O fisioterapeuta é o profissional melhor qualificado para avaliar a movimentação e as funcionalidades do corpo para entender e fazer um bom prognóstico se existe a possibilidade ou não de tratar de forma conservadora um caso de dor no quadril.

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Artigo Escrito Por:

Claudio Cotter | CREFITO 30874-F

Instagram: @fisiocorredor

• Graduação em Fisioterapia pela Universidade Cidade de São Paulo;
• Especialista em RPG;
• Formação no Método Busquet;
• Pós Graduado em Medicina Psicossomática – Associação Brasileira de Medicina Psicossomática;
• Ex-Fisioterapeuta da Seleção Brasileira Feminina de Futebol (CBF);
• Colunista do Portal Ativo e Webrun;
• Ultramaratonista;
• Consultor da Mizuno segmento running;
• Sócio-fundador da CM.2 Clínica Multidisciplinar.

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