29 jul Por que meu joelho estala?
Articulações estalam, isto é fato! Não há nada de errado com estalos esporádicos, mas é importante entendermos o porquê de elas estalarem e qual a diferença entre um estalo inocente e algum outro tipo de barulho que a articulação faça que possa ser perigoso.
Nossos músculos, tendões e ligamentos são responsáveis diretos pelo posicionamento de cada uma de nossas articulações. Podemos dizer que nossa cartilagem e ossos são moldados de acordo com as forças que passam por eles. A somatória da carga de nosso peso com as trações exercidas pelos ligamentos e tendões irão gerar como resultantes movimentos e ajustes posturais, mas também podem ser agentes que desalinham nossas articulações e com o passar do tempo às deformam.
Além disso, temos que considerar que músculos tensos geram trações diferentes do que músculos bem equilibrados, esta tensão pode ser gerada por inchaço de fadiga, seja por cansaço de um dia de trabalho ou por atividade esportiva intensa, ou ainda por retrações, aderências, fibroses, chame como quiser, estes são sinônimos de uma reação natural do nosso corpo ao estresse, seja físico ou emocional, e em processos cicatriciais.
Tensegridade
Hoje um termo usado na ciência para explicar como estas forças interagem no nosso organismo é tensegridade, na definição, é um padrão que pode resultar de uma relação de mútuas forças contrárias (tração e compressão). Num sistema de tensegridade, a tração e a compressão equilibram-se num círculo vetorial fechado onde os vários elementos do sistema se solidarizam com o fim de aumentar a estabilidade estrutural, mantendo-a. O problema ocorre quando estas forças não se anulam, começam a dissipar gerando movimentos adaptados e ineficiência biomecânica.
Todos os nossos órgãos e músculos são envoltos por membranas fibrosas (as fáscias) e mantido um equilíbrio nestes sistemas (tensigridade), estas membranas são importantes para dar sustentação para estes tecidos e transmitir forças pelo corpo mantendo um bom funcionamento, inclusive contribuindo para o bom fluxo de líquidos entre os tecidos.
Quando ocorre um desequilíbrio nestes sistemas, qualquer que seja o processo, seja um inchaço ou um acúmulo de tensão por retrações teciduais, naquele local ocorre uma força de tração, no caso de retrações ou compressão no caso do inchaço (acúmulo de líquido em órgão, músculo ou entre tecidos). Estas forças geradas serão transmitidas para os tecidos no entorno do processo e ocorrerá uma adaptação àquele estímulo.
Muitas vezes esta adaptação pode ser um desvio articular, pois as forças que circulam por aquela região estão afetadas por um novo padrão adaptativo ao novo processo.
Como exemplo, é só pensarmos que pelo simples fato de ficarmos com a sensação do inchaço muscular pós musculação, já sentimos nossa postura mais estruturada, ou quando tomamos uma pancada na coxa e sentimos ela inchada e não conseguimos movimentar de forma natural aquele membro ao caminhar até chegando ao ponto de mancar em algumas ocasiões.
Outro exemplo não relacionado com lesões ocorre quando saímos de uma refeição com o abdômen dilatado pelo excesso de ingestão de comida e nos sentimos com a postura da gravida.
Quando estes processos de acúmulo de tensão muscular geram alterações leves de posicionamento articular, pode ocorrer um estalido na articulação, como quando agachamos e sentimos um estalo seco na patela do joelho, isto podemos considerar natural, até porque normalmente repetindo o movimento em seguida o estalido não é mais percebido.
Por outro lado, algumas pessoas sentem crepitações mais espalhadas pelo movimento, como um rangido na articulação, parecendo que a articulação está raspando por um período do movimento ou pelo movimento inteiro, isto sim é perigoso.
Afinal, o que os estalos no joelho significam?
Estes rangidos significam que pode existir um processo crônico de desgaste articular se iniciando, até porque o rangido não cessa ao repetir o movimento, o corpo não conseguiu se adaptar à estas mudanças de forças que afetam nosso corpo o tempo inteiro gerando assim uma má adaptação, na qual ocorre o desgaste de uma estrutura, neste caso geralmente a cartilagem.
Neste caso, existem algumas condutas como medicamentos via oral ou infiltrações articulares, na maior parte de substâncias que funcionam como suplementos para a cartilagem, ou seja, substâncias que ajudam a nutrir a cartilagem e equilibrar o Ph da articulação. O problema é que não adianta suplementar a articulação sem alinhá-la antes, é como lubrificar uma engrenagem de uma máquina com óleo sem ela estar bem alinhada, provavelmente o fato de estar desalinhada vai forçar o motor da máquina e acabar por estressar outras estruturas que acabaram quebrando com o tempo.
A fisioterapia no combate aos estalos no joelho
Na fisioterapia a conduta é, analisar o movimento específico que gera o estalido ou rangido na articulação, entender como os ajustes posturais estão influenciando esta articulação, entender toda a rotina do paciente em termos de tempo e qualidade da movimentação na rotina, tempo sentado, atividades físicas/esportivas e a partir daí traçar uma conduta que passa por terapia manual, manobras que ajudarão a reequilibrar as forças que agem sobre a articulação em questão, reeducação de movimentos e de hábitos nas atividades diárias, o que resulta numa abordagem abrangente na vida do paciente, muito além de pensar apenas em fortalecer e alongar músculos ou em usar algum tipo de órtese, neste caso uma joelheira, para diminuir os sintomas.
Esta avaliação do movimento, independentemente de ser um esportista ou uma pessoa sedentária, chamamos de avaliação biomecânica, não importando a idade do paciente.
O Método Busquet é uma das ferramentas de liberação miofascial específica, que tem como objetivo otimizar a biomecânica articular. Algumas posturas de Yoga também contribuem muito para reequilibrar o corpo de forma global.
Nas estratégias de reeducação do movimento podemos usar diversas técnicas como recurso da cinesioterapia, além de reeducar o próprio movimento que está gerando os estalidos ou rangidos, podemos usar ainda o Pilates e o Gyrotonic.
Saiba Mais Sobre Estalo no Joelho
Artigo Escrito Por:
Claudio Cotter | CREFITO 30874-F
Instagram: @fisiocorredor
- Graduação em Fisioterapia pela Universidade Cidade de São Paulo;
- Especialista em RPG;
- Formação no Método Busquet;
- Pós Graduado em Medicina Psicossomática – Associação Brasileira de Medicina Psicossomática;
- Ex-Fisioterapeuta da Seleção Brasileira Feminina de Futebol (CBF);
- Colunista do Portal Ativo e Webrun;
- Ultramaratonista;
- Consultor da Mizuno segmento running;
- Sócio-fundador da CM.2 Clínica Multidisciplinar.
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