19 out Dores na Lombar são realmente um problema para a corrida?
Até onde Dores na Lombar afetam o desempenho do corredor?
As dores na lombar atingem 80% da população. Como a maioria dos corredores é amadora e cumpre outras funções na sua rotina diária, é difícil não ser influenciada por questões comuns a sedentários.
Isso mesmo, sedentários! Hoje, a tendência é associarmos as dores na lombar muito mais ao tempo que os pacientes ficam sentados na semana do que aos esforços físicos. Se avaliarmos apenas a rotina de nossa espécie tendo como referência a sociedade de hoje é claro que temos um espectro limitado de comparação, pois nossos ancestrais vivenciavam rotinas totalmente diferentes das nossas.
Se traçarmos o histórico de nossos ancestrais desde o Homo Erectus, temos 2 milhões de anos de história. Praticamente, começamos a nos organizar em sociedades agrícolas apenas há 10 mil anos, nas quais iniciamos uma rotina com alguns movimentos repetitivos, mas ainda permeada de muita atividade e pouco tempo sentados. Isso mudou após a Revolução Industrial, entre os séculos XVIII e XIX: o ser humano tornou-se menos ativo para ficar mais tempo sentado e executar mais movimentos repetitivos. Assim desenvolvemos uma série de doenças crônicas, de cardíacas a ortopédicas, totalmente relacionadas ao sedentarismo e a outros novos hábitos, como uma alimentação basicamente industrializada despois da Segunda Guerra Mundial.
O fato de ficarmos muito tempo sentados mais do que o possível por causa das cadeiras confortáveis, nos leva a uma evolução forçada. Ou seja, criamos um objeto para utilizar (a cadeira), e precisaríamos de milhões de anos para nos adaptarmos a ele. Mas como não demos este tempo para a nossa biologia, provocamos uma incompatibilidade evolucionária. Então, sempre que forçamos a biologia a se adaptar a uma evolução, há consequências.
Estudos mais recentes sobre como “o sentar” influencia a coluna vertebral demonstraram que, ao contrário do que se pensava, a coluna teve sua evolução completa na transição de quadrúpede para bípede — e “o sentar” em excesso é que está causando uma desadaptação. A lordose lombar (curvatura fisiológica da coluna lombar em extensão) é importante, pois mantém as forças que atuam sobre as articulações e discos, bem distribuídas. Perdemos esta curvatura quando nos sentamos por longos períodos voltando à posição de flexão, comum aos primatas que ainda se apoiam sobre as patas da frente para se locomoverem.
Lembrando que existem forças ascendentes (como o impacto que sobe dos pés até cabeça) e forças descendentes (como a gravidade), que geram compressão na coluna lombar, que quando não está em posição de recebê-las, as distribuindo mal e gera processos degenerativos no longo prazo.
Há um estudo de Kimberly A. Plomp de 2015* que comparou vértebras de humanos saudáveis, humanos com alterações degenerativas, orangotangos e chimpanzés, e concluiu que vértebras de humanos em processo degenerativo se assemelham mais com vértebras de primatas do que com vértebras de humanos saudáveis (sem processo degenerativo).
Outros estudos apresentaram que a força abdominal não é importante e sim o equilíbrio muscular, já que o índice de pessoas com dores lombares se mantêm mais ou menos estáveis independentemente do grupo que se avalia. Ou seja, tanto em grupos de pessoas com fraqueza muscular, como em grupo de pessoas que frequentam academias e fazem atividades diversas, é comum que 60% a 80% apresentem ou já tenham apresentado dores na lombar em algum momento da vida.
Na prática temos que avaliar cada caso como único, pois dores na lombar são multifatoriais. Orientar um corredor a parar de correr por causa disso pode piorar o quadro de dor. O motivo é que os movimentos naturais da corrida e da caminhada são, maior parte dos casos, os que mantêm uma boa mobilidade e vascularização para os discos, articulações, músculos e evitam retrações por má postura.
A dica final é apelar para o bom senso. Se você corre e a dor piora, consulte um especialista. Porém, não adianta consultar um profissional que não está acostumado a atender atletas, pois a tendência é que ele peça repouso, talvez por pensar que isso sempre seja uma garantia de melhora do quadro. Como já dito, nem sempre isto é uma verdade.
Caso a corrida alivie sua dor, não pare. Nesta hipótese a análise talvez tenha que ser uma revisão da sua rotina ou até mesmo de como você lida com questões emocionais.
Fonte: Ativo
Artigo Escrito Por:
Claudio Cotter | CREFITO 30874-F
Instagram: @fisiocorredor
- Graduação em Fisioterapia pela Universidade Cidade de São Paulo;
- Especialista em RPG;
- Formação no Método Busquet;
- Pós Graduado em Medicina Psicossomática – Associação Brasileira de Medicina Psicossomática;
- Ex-Fisioterapeuta da Seleção Brasileira Feminina de Futebol (CBF);
- Colunista do Portal Ativo e Webrun;
- Ultramaratonista;
- Consultor da Mizuno segmento running;
- Sócio-fundador da CM.2 Clínica Multidisciplinar.
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