22 jan Como ter um abdômen equilibrado?
Fortalecer o Abdômen garante a ausência de dores lombares?
Fortalecer ou não fortalecer para ter um abdômen equilibrado? Trincar ou não trincar? Pela lógica parece realmente fazer sentido que se pense: quanto mais forte meu abdômen melhor será meu desempenho, certo? Errado!! Principalmente pelo simples fato de que qualquer grupo muscular que for exercitado em excesso vai causar um desequilíbrio no sistema. Ah, então a solução é fortalecer os músculos da lombar, assim temos um equilíbrio, certo? Errado!!!
Vamos aos fatos, artigos como o The myth of core stability publicado em 2010 no Journal of Bodywork & Movement Therapies deixam claro que a força abdominal, ou melhor, o fato de um indivíduo ter ou não força abdominal, não está relacionado diretamente com o fato de ter ou não dor na coluna lombar. Percebem que aqui relaciono diretamente a dor lombar com uma disfunção, pois se há dor, pode ter certeza que este é um alerta para uma disfunção em 95% dos casos, pois estatisticamente apenas 5% dos casos de dores lombares tem indicação direta de cirurgia quando nos referimos a casos ortopédicos, sem tumores relacionados. O que tem ficado muito em evidência também em estudos antropológicos , como o The ancestral shape hypothesis: an evolutionary explanation for the occurrence of intervertebral disc herniation in humans. BMC Evolutionary Biology (2015), é que o sentar parece ser o grande vilão da coluna, inclusive causando deformidades nas vértebras para se adaptarem ao sentar, perdendo as características que desenvolvemos quando nos tornamos bípedes.
Claro que quando mal interpretados estes estudos podem gerar polemicas de todo tipo, mas quando unimos estes dados com a pratica clinica não restam dúvidas de que mais importante do que fortalecer o abdômen é manter o equilíbrio entre os músculos do tronco, assim como de qualquer articulação, daí pode vir a dúvida: fortalecendo muito todos os grupos musculares terei a coluna protegida? Como citei no início do artigo, esta ideia esta equivocada pelo simples fato de que fortalecimento em excesso leva a tensões musculares e rigidez, nossos ancestrais não faziam exercícios abdominais e viviam bem sem eles, claro, eles se movimentavam o tempo todo, não ficavam sentados horas em computadores como nós.
Temos que começar a retornar a nossa essência e lembrar que nossas articulações precisam de movimento para serem lubrificadas naturalmente, o excesso de exercícios com carga vai levar a um excesso de rigidez e esta é contraria a boa mobilidade articular. Estamos falando aqui de um conjunto de articulações, que quando bem estabilizadas por uma boa sinergia entre músculos equilibrados, geram um movimento coordenado e articulações saudáveis. A rigidez leva a falta de mobilidade, à diminuição dos espaços articulares e em longo prazo à dor e artrose (degeneração das articulações).
Além disso, muitas vezes esquecemos que os músculos abdominais devem ser “alongados” todos os dias para compensar as horas que ficamos em posição de flexão de coluna quando sentamos, massagear o abdômen também vale, como nossas mães faziam quando não conseguíamos ir ao banheiros, o “alongar” pode ser simplesmente deitar numa bola de Pilates grande com a cabeça, a lombar e dorsal bem apoiadas na bola e os braços abertos. Claro que exercícios como estes devem ser feitos preventivamente, no caso de dor o fisioterapeuta ou médico deve ser consultados.
Corredor lembre-se, sempre que para correr melhor é preciso ter um corpo livre de tensões, cadeias musculares bem equilibradas, boa mobilidade articular e boa consciência corporal. Cargas elevadas só vão levar a desgaste articular e tensões musculares desnecessárias para um esporte como o nosso. Sempre estimulo que meus pacientes priorizem como fortalecimento aulas de Pilates ou funcional, exercícios ao ar livre em gramados descalços, trabalhos com pouca carga e muito trabalho de equilíbrio.
Fonte: Webrun
Artigo Escrito Por:
Claudio Cotter | CREFITO 30874-F
Instagram: @fisiocorredor
- Graduação em Fisioterapia pela Universidade Cidade de São Paulo;
- Especialista em RPG;
- Formação no Método Busquet;
- Pós Graduado em Medicina Psicossomática – Associação Brasileira de Medicina Psicossomática;
- Ex-Fisioterapeuta da Seleção Brasileira Feminina de Futebol (CBF);
- Colunista do Portal Ativo e Webrun;
- Ultramaratonista;
- Consultor da Mizuno segmento running;
- Sócio-fundador da CM.2 Clínica Multidisciplinar.
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