20 out O Joelho na Abordagem Biopsicossocial
Nesta sexta-feira, dia 15 de outubro de 2021 tivemos mais uma reunião multidisciplinar aqui na CM2 e, como sempre, a interação entre profissionais de várias áreas foi muito produtiva, trazendo conceitos filosóficos e ciência, no que consideramos o ideal dentro da evolução do conhecimento pois as comprovação que os estudos científicos nos trazem são o ponto de partida para discussão de como colocar em prática no dia a dia o que foi testado em ambientes controlados, gerando assim novas teses para novos estudos.
O tema escolhido por Rafael Ferreira e Claudio Cotter, autores do livro “Cura Pelo Hábito” foi: A evolução do tratamento do joelho. Pois esta é uma articulação acometida por patologias de conhecimento geral da população, como tendinopatias (tendinites), condromalácia patelar (desgaste na cartilagem da patela) e lesões de meniscos e de ligamentos, que geram muitos questionamentos nas mídias do “porquê” destas dores e lesões acometerem hoje um número tão grande de pessoas.
A evolução da fisioterapia neste aspecto foi incrível pois passamos num período de 30 anos de uma profissão extremamente tecnicista para a formação dos profissionais de hoje, que além de se desenvolverem cientificamente, com a preocupação de entender o quanto as técnicas utilizadas realmente apresentam resultados, foram além e aprofundaram o conhecimento a partir de ciências como a antropologia, biomecânica, neurofisiologia, filosofia, medicina chinesa e entre outras que levaram o trabalho do fisioterapeuta para outro patamar, capaz de ir fundo no “porquê” destas dores e lesões e formando profissionais que hoje olham para o todo do paciente e não apenas para a articulação acometida.
Dentro deste olhar biopsicossocial queremos entender em que contexto de vida aquela lesão se desenvolveu, pois fortalecer, alongar, aplicar o “choquinho” ou qualquer outra técnica perde o sentido se não dermos um passo para trás visando entender a causa real que gerou a dor.
Um exemplo desta mudança na análise do “porquê” das lesões é entender que uma pessoa que fica o dia todo sentada gera maior compressão na cartilagem da patela contra o fêmur com o joelho a 90°, do que um corredor de longa distância, que tem sua patela deslisando suavemente sobre o fêmur por quilômetros.
Chega a ser uma quebra de crença, já que a maior parte das pessoas acha que o impacto que nosso joelho sofre durante a corrida é um problema, quando na verdade nosso joelho foi feito para suportar estas cargas naturalmente mas não foi feito para ficar parado à 90°.
Entender que nossos ancestrais possuíam uma rotina de movimentação diversificada e com um volume absurdamente maior de movimentação do que o ser humano atual nos faz repensar os nossos hábitos, pois hoje procuramos desculpas o tempo todo para nos movimentarmos. Vamos às academias e contratamos personal trainers ao invés de colocarmos movimentação natural na nossa vida, como ir buscar o alimento numa caminhada, como nossos ancestrais faziam.
Não há nada de errado em se exercitar em academias e, aliás, contratar um profissional preparado para te incentivar e direcionar suas atividades é realmente muito indicado, mas infelizmente esta não é a realidade da maior parte da população mundial, portanto é importante deixar claro que qualquer caminhada introduzida na sua rotina pode funcionar como peça-chave dentro do tratamento de uma dor ou lesão.
Faz muito mais sentido pensarmos que pessoas que começam a frequentar academias melhoram suas dores porque estão se movimentando num período que antes não se movimentavam, do que pensar que o fortalecimento em si é o motivo para a melhora da dor. Fortalecer o corpo de forma aleatória gera um ganho sempre pois lubrifica as articulações, melhora o fluxo sanguíneo, equilibra a liberação de uma série de neurotransmissores/hormônios, dentre outros benefícios.
Mas vamos além pois hoje parte do trabalho do fisioterapeuta é analisar o movimento e entender como gerar maior eficiência para executar determinados movimentos, o que muitas vezes pode ser o ponto crucial para gerar melhora no quadro de dor.
Numa visão comportamental e simbólica podemos entender os joelhos como instrumento essencial na tomada de decisão para impulsionar nossa vida em uma nova direção e, quando este processo emocional está bloqueado, muitas vezes vamos apresentar dores nos joelhos e dificuldade de nos deslocarmos.
A falta de estabilidade e sustentação destas articulações dos membros inferiores como quadril, joelho e tornozelo podem gerar dificuldade de caminhar para o futuro em tomadas de decisões desafiadoras, portanto, muitas vezes, entender o momento de vida do paciente também se torna crucial no tratamento.
Em resumo, somos seres biológicos que vivemos em culturas e comunidades que geram grande influências sobre nossas ações, reações e ainda acumulamos uma série de preocupações em relação a futuros instáveis e incertos, assim, fazendo todo o sentido termos um olhar amplo sobre o paciente e pararmos de tratar articulações de forma isolada.