26 jul Qual a relação entre dores nos órgãos e dores musculares?
As relações entre dores viscerais, que são as dores sentidas nos órgãos, e as dores musculares, já são descritas em diversas linhas de conhecimento desde a antiguidades, mas os estudos vêm comprovando cada vez mais estas relações e explicando de forma mais cada vez melhor a interação destes sistemas.
Na prática, qualquer um já pode ter sentido cólicas intestinais por gazes ou, no caso das mulheres, cólicas menstruais e neste contexto ter percebido dores lombares relacionadas diretamente às cólicas ou dores pré-existentes intensificadas pelas cólicas.
Ao atendermos pacientes, podemos perceber ainda uma relação direta de agravamento das dores articulares ou musculares por retrações causadas por cicatrizes pós cirurgias abdominais de qualquer tipo, seja para retirada de um apêndice, em grandes cirurgias com remoção de parte do intestino ou até mesmo em cirurgias plásticas que gerem retrações teciduais pelas fibroses provocadas pela cicatrização pós cirurgia.
Estudos recentes têm demonstrado que a percepção de dor visceral é diferente das dores musculares, além delas poderem ser somadas pelo nosso sistema nervoso, que começa a integrá-las e nos confundimos em relação à estas dores. Um artigo publicado em 2017 por Laura Ricarda Koenen e col., Maior medo da dor visceral contribui para diferenças entre dor visceral e somática em mulheres saudáveis, demonstrou inclusive que a grande diferença entre a dor visceral e a dor músculo-esquelética é que a primeira não se acomoda com o tempo a segunda sim, dores musculares persistentes, com o tempo geram adaptação do estímulo, o que faz com que diminua gradativamente a percepção de dor, já dores em órgão não sofrem acomodação, podem aumentar inclusive a percepção de dor subjetiva, mesmo com um estímulo sendo o mesmo, e o resultado principal do estudo foi mostrar que no pós teste as dores viscerais podem gerar ainda medo da própria dor, o que piora ainda mais a experiência da dor no relato dos indivíduos avaliados neste estudo.
Em outro estudo interessante, Co ocorrência de síndromes de dor, de Giannapia Afaitati e col., demonstrou que as dores viscerais podem agravar a dor da Fibromialgia, demonstrou também que em processos de dores renais por presença de pedras nos rins, em 22% dos casos, mesmo quando retiradas as pedras muitos pacientes continuam referindo as dores na região das costas que sentiam pela presença das pedras nos rins e destes 22%, 88% continuavam com as dores após 3 anos da retirada dos cálculos renais. A boa notícia é que quando tratadas por métodos fisioterapêuticos normalmente estas dores tendem a melhorar.
Neste mesmo estudo constatou-se que mulheres que apresentavam dores de cólicas menstruais mensalmente, após quadro de dor por cálculos renais que coincidissem com o momento das dores das cólicas menstruais acabavam se somando os dois tipos de dores, e pelo provável motivo do sistema confundir e somar as dores nas mesmas vias de percepção que levavam a informação para o Sistema Nervoso, mesmo após serem retiradas as pedras do rim, estas mulheres começaram a sentir as dores mais intensas e que seriam comuns de quadros de crises renais na fase menstrual das cólicas, mesmo fazendo exames que comprovavam que não apresentavam mais as pedras nos rins.
Sabemos que o Sistema musculoesquelético e as vísceras estão intimamente conectados por membranas fibrosas, por redes neurais que mantêm sua relação desde a formação embrionária e pelas regulações de pressões e facilitando drenagem de tecidos por contrações e movimentos, um repercutindo no trabalho do outro. A abordagem destes Síndromes de dor sempre deve levar em consideração esta relação, pois qualquer avaliação e tratamento que ignorem estas conexões correm sério risco de deixar de lado informações importantes, que possam ser primordiais para definir a conduta ideal de tratamento e comprometem a resolução dos processos de dor.